Pelo mundo: segurança e novas amizades são atrações nas viagens só de mulheres
Viajantes optam por roteiros feitos por grupos formados apenas pelo sexo feminino; tendência já movimenta uma parte do mercado de agências de turismo
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— Rio de Janeiro
14/07/2024 04h30 Atualizado há 10 horas
— Sempre existiu segmentações no turismo, como religioso, médico e o de idosos. O setor agora olha mais para as mulheres.
Foi o fim de um casamento de 32 anos que levou a professora Fernanda Rodrigues, de 56 anos, a buscar a NTour Viagens para Mulheres para uma primeira viagem. O destino foi Maceió, em 2023.
— Queria viajar, mas não sozinha. A experiência mudou minha vida. Além de superação, voltei com amigas de várias partes do Brasil, com quem continuo viajando — conta Fernanda, que repetiu a experiência em 2024, desta vez em Jericoacoara (CE).
As viagens ajudaram a dentista Oneide de Fátima Toniazzo, de 71 anos, a superar o momento mais difícil de sua vida. Divorciada, ela perdeu o filho de 29 anos em um acidente de carro em 2015. Encontrou na agência Mulheres pelo Mundo companhia nos passeios.
— Meu filho sempre gostou de viajar e busquei nelas uma forma de homenageá-lo. Se tornou uma maneira de sobreviver — conta Oneide, que já esteve em mais de 30 países.
O medo de viajar sozinha impedia a gerente de vendas Giselle da Silva, de 41 anos, de conhecer o Deserto do Atacama, no Chile. Em março, após uma viagem com seis desconhecidas pela Woman Trip, o sonho foi concretizado.
— O local tem uma energia incrível e todas nós nos demos muito bem. Mas o que mais me marcou foi o orgulho que senti por encarar meus medos — contou.
Segundo a psicóloga Kívia Rodrigues, a relação de amizade criada pelas viajantes em grupo pode ser tão importante quanto a experiência de conhecer novos lugares.
— É uma oportunidade para essas mulheres não apenas conhecerem o que está do lado de fora delas, mas também para se aproximarem mais de si mesmas — pondera.
A turismóloga Gilsimara Caresia, dona da agência GirlsGo, diz que viagens para esse nicho podem ser um pontapé para mulheres desbravarem novos destinos em voos solos.
— Muitas meninas que começam a viajar nos meus grupos tomam coragem para em um segundo momento irem sozinhas a algum lugar — conta Gilsimara, que abriu a agência em 2015 e organiza desde 2019 o Encontro Brasileiro de Mulheres Viajantes, em São Paulo.
Não são apenas mulheres solteiras que compõem os grupos. A empresária Maria Inez Oliveira de Souza Einsfeld, de 68 anos, casada há 36 anos, já viajou para a Índia pela GirlsGo e prepara as malas para uma viagem para o Marrocos em outubro.
— Meu marido avisou no início do casamento que não gostava de viajar. Mas eu sempre amei e não quis abrir mão. Já conheci pelo menos 25 países — contou Maria Inez, que fez quatro viagens só este ano e ainda pretende ir para a Itália e Grécia até dezembro.
Foi um incômodo pessoal que fez a psicóloga Cleonice Aparecida Franco a criar a primeira empresa especializada no segmento no Brasil, a Mulheres pelo Mundo. Cleonice sofria com a falta de companhia para viajar após se divorciar e viu o mesmo problema acontecer com outras mulheres.
A atual proprietária da agência, Fernanda D’Erasmo, confirma que, embora suas clientes sejam todas mulheres, não há um perfil padrão das viajantes. A diversidade reina nos motivos que levam à formação dos grupos femininos.
— Há quem busque por ter medo de viajar sozinha, por ter ficado viúva ou se separado, por incentivo dos filhos, por querer fazer novas amizades ou querer viver a experiência de viajar com pessoas desconhecidas — cita.
Mais segurança
A professora associada da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense (UFF), Verônica Feder Mayer, aponta que essa forma de fazer turismo aumenta a segurança das mulheres, que correm mais risco que os homens em lugares que estão desbravando.
— Um grupo é uma rede de proteção — explica.
Dados de 2019 do ranking Women Danger Index, que analisa estatísticas de feminicídio, assédio, segurança e serviços, apontam o Brasil como o segundo país mais perigoso para mulheres viajarem sozinhas, perdendo só para a África do Sul. E um estudo da Money Transfer de 2023 mostra o Brasil como o terceiro destino mais perigoso, atrás da África do Sul e do Peru.
A segurança é um dos benefícios apontados por Nicole Liberato Oliveira, de 28 anos, proprietária da Ntour, na hora de oferecer seus serviços. A empresa busca também estar rodeada de mulheres em seu staff, priorizando guias turísticas e motoristas do sexo feminino nos passeios.
— As mulheres se sentem naturalmente inseguras, e em lugares diferentes isso pode ser pior. A agência oferece o suporte de alguém que conhece os costumes e a cultura — diz Nicole.
Vantagens de viajar em grupos de mulheres
Companhia. A formação de grupos pode render amizades não só para aquele passeio, mas que podem seguir para outras excursões e pela vida.
Segurança. Viagens em grupo diminuem os perigos para as turistas, que passam a ter uma rede de apoio durante o passeio.
Orientação. Profissionais das empresas orientam as viajantes sobre as culturas e os costumes dos locais visitados.
Fonte:https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2024/07/14/pelo-mundo-seguranca-e-novas-amizades-sao-atracoes-nas-viagens-so-de-mulheres.ghtml
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